O que é feito dos Cosméticos Orgânicos?

Edicao Atual - O que é feito dos Cosméticos Orgânicos?

Editorial

 

 

Perguntas necessárias

O julgamento dos réus do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é uma novela que, felizmente, também está mobilizando a atenção dos brasileiros. Ainda no início do julgamento, pesquisa nacional feita pelo Datafolha, divulgada no início de agosto deste ano, com 2.562 pessoas, revelou que 73% dos entrevistados acreditavam que os acusados seriam condenados à prisão. O percentual dos que se consideravam bem informados sobre a ação penal chegou a 81%.

 

A atenção dos brasileiros ao julgamento histórico (o que é fácil observar não apenas considerando o resultado de pesquisas, mas, sobretudo, o que se ouve no dia a dia) demonstra, em graus variados, engajamento e indignação. Contudo, a maneira como a maioria dos brasileiros ainda elabora suas opções de voto nas eleições tem muito a amadurecer. Nem todos conseguem responder, por exemplo, em qual candidato a vereador votou no pleito anterior (em 2008). Segundo pesquisa realizada pela revista Veja São Paulo, no período de 10 a 22 de agosto, somente 31% dos entrevistados já haviam escolhido um candidato a vereador para as eleições deste ano na capital paulista, enquanto 63,6% já tinham um candidato para ocupar a posição de prefeito. O mesmo levantamento aponta que um terço dos entrevistados não soube mencionar o nome de nenhum vereador paulistano.

 

E por falar em pergunta difícil, nesta edição de Cosmetics & Toiletries Brasil, na matéria de capa, lançamos a pergunta: “O que é feito dos cosméticos orgânicos?” O impasse legal criado a respeito da regulamentação dessa categoria de produtos no Brasil se arrasta há aproximadamente dois anos e parece estar longe de um desfecho. Saiba o que dizem alguns dos agentes envolvidos no tema.

 

Em “Persona”, apresentamos a trajetória apaixonada de João Carlos Basílio da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Os artigos técnicos abordam a depilação temporária, os ésteres de origem vegetal, a certificação de cosméticos orgânicos e naturais e um interessante artigo de revisão sobre os carotenoides.

 

Boa leitura!

 

Hamilton dos Santos
Publisher

 

 

 

 

Depilação Temporária - Eric S Abrutyn (TPC2 Advisors Ltd., Delray Beach FL, EUA)

Neste artigo, o autor descreve os processos e os ingredientes utilizados nos produtos cosméticos destinados à remoção dos pelos. Também descreve o teor das recentes patentes submetidas ou concedidas para esses produtos.

En este artículo el autor describe los procesos y los ingredientes utilizados en los productos cosméticos destinados a eliminar el pelo. Y también se describe el contenido de las patentes recién presentadas o concedidas de estos productos

In this article the author describes the processes and ingredients used in cosmetic products intended to hair depilation. And also describes the content of recent submitted or granted patents for these products.

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Propriedades Biofísicas da Pele: Barbear e Aplicar Gel Pós-barba - Mariana B A Demets, Mirela D Gianeti, Josiane F Oliveira, Ana Flora V S Marcon, Patrícia M B G Maia Campos (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – USP, Ribeirão Preto, São Paulo SP, Brasil)

O objetivo deste estudo foi avaliar os danos causados pelo barbear e a influência de um gel pós-barba contendo ativos com propriedades hidratantes e anti-irritantes na diminuição desses efeitos.

El objetivo del estudio fue evaluar el daño causado por el afeitado, y la influencia de un gel para después de afeitarse que contiene activo con propiedades hidratantes y anti-irritante, para disminuir estos efectos.

The aim of this study was to evaluate the damages caused by shaving and the influence of an aftershave gel containing moisturizing properties and anti-irritant active ingredients.

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Ésteres em Cosméticos: Ingredientes de Origem Vegetal em Aplicação Capilar - Alexandre F. Leal da Silva, Umberto Longo (Dhaymers, Taboão da Serra SP, Brasil)

Seguindo as tendências de desenvolvimento de matérias primas de origem vegetal, neste artigo são relatados os resultados de testes de eficácia do éster Isosorbide dicaprylate no tratamento de cabelos.

Siguiendo la tendencia de desarrollo de materias primas de origen vegetal, en este artículo se presentan los resultados de pruebas de eficacia del ester Isosorbide dicaprylate en el tratamiento de cabellos.

Following the development trends of raw materials of vegetal origin, in this article are reported the result of ester Isosorbide dicaprylate efficacy testing in hair care.

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Certificação de Cosméticos Orgânicos e Naturais - Lívia S Rodrigues (Elza Indústria e Comércio de Cosméticos Ltda., Belo Horizonte MG, Brasil), F Q Oliveira (Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte MG, Brasil), Lúcia H Angelis (Centro Universitário Newton Paiva, Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, Belo Horizonte MG, Brasil)

O objetivo deste artigo foi apresentar um estudo sistemático em busca de informações relativas ao processo de certificação de cosméticos orgânicos e naturais, considerando que não existe regulação brasileira para esses produtos.

El objetivo de este artículo es un estudio sistemático en la búsqueda de información relacionada con el proceso de certificación de los cosméticos orgánicos y naturales, teniendo en cuenta que no existe una regulación brasileña para estos productos.

The aim of this article was a systematic study in search of information relating to the certification process of organic and natural cosmetics, considering that there is no Brazilian regulation for these products.

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Atividades Biológicas dos Carotenoides - Daniella Lopes Francischetti (Solabia Biotecnológica Ltda., Maringá PR, Brasil)

Este artigo é um trabalho de revisão da literatura sobre os carotenoides. O β-caroteno tem atividade pró-vitamina A. Já o licopeno não pode ser considerado um pró-vitamínico e apresenta atividade antioxidante. A vitamina C e o tocoferol também são potentes antioxidantes.

Este artículo es un trabajo de revisión bibliográfica sobre los carotenoides. El β-caroteno tiene actividad de provitamina A. El licopeno que no puede ser considerado una provitamina, tiene actividad antioxidante. La vitamina C y el tocoferol son también potentes antioxidantes.

This article is a review of literature on carotenoids. The β-carotene has provitamin A activity. By other hand, the lycopene can not be considered a pro-vitamin and it has antioxidant activity. Vitamin C and tocopherol are also potent antioxidants.

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Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

Gestão matricial de produto

As organizações em geral têm se estruturado de forma a garantir a gestão adequada do portfólio de produtos e marcas, organizando suas equipes por famílias de produto, de acordo com o porte e a diversidade de suas linhas. De certa forma, o diretor de marketing é o líder dessa gestão global. Por sua vez, os gerentes de produto costumam ser os gestores de um portfólio mais específico, contendo uma linha de produtos que têm alguma semelhança entre si. Em empresas de maior porte ainda há a figura do gerente de novos negócios, o qual tem como objetivo principal a inovação, uma vez que a gestão das linhas corrente consome muito tempo dos demais gerentes de produto. Não raro, essa distribuição de linhas de produtos reflete a estrutura das unidades de negócio da organização.

O risco desse tipo de administração é organizar o portfólio de produto em decorrência da disposição interna de cargos e salários, e não na segmentação de clientes, o que impacta diretamente naquilo que realmente interessa: o cuidado com o cliente, o qual não tem nada a ver com a estrutura interna da empresa. O enfoque estratégico organizado por produto e não pelo segmento de mercado pode levar à duplicidade de esforços e à dificuldade de comunicação com o consumidor final, pois este pode acabar recebendo informações de produto de duas linhas diferentes que estejam em conflito ou não muito bem alinhadas entre si.

No entanto, a gestão por produto ainda é necessária para a subsistência de uma organização. Sendo assim, como solucionar esse dilema que atormenta os diretores de marketing que precisam simplificar a gestão interna sem perder o foco do mercado? A tarefa não é fácil e muito menos simples. A solução passa pela administração das estruturas matriciais, a qual organiza a estrutura interna simultaneamente por produto e mercado.

A estrutura matricial exige dos gerentes de produto um caráter multidisciplinar, o que lhes confere um charme todo especial. Essa figura tem de se relacionar com toda a organização (entenda-se por “toda”, todos os setores da organização, sem exceções) e, necessariamente, precisa ter um perfil de negociador muito bem desenvolvido para lidar com os “egos” e os momentos de cada área. Não é necessário dizer que esse profissional precisa ter um poder de argumentação acima da média, uma vez que ele tem a árdua tarefa de convencer outros a fazerem aquilo que não querem. Nem sempre está claro para toda estrutura que esse profissional, embora não seja um superior hierárquico de determinado setor, naquele momento, para aquela necessidade, tem autonomia para impor a execução de tarefas.

O conhecimento básico das demais áreas, como finanças, jurídico, P&D, produção, logística, qualidade, administração de pessoas, economia etc., é importante para que o gerente de produto consiga traduzir internamente as necessidades externas, com menor perda de tempo e geração de atrito. O jogo de cintura com as peças-chave de origem externa, como fornecedores, organizações e clientes, é o que deve ser bem desenvolvida nesse profissional.

O perfil desse profissional exige, mais do que o dos demais profissionais táticos que compõem a organização, a necessidade de ele estar em constante sintonia com as informações de mercado, inclusive com as que aparentemente não têm a ver diretamente com sua área, como as impostas pelos cenários político, econômico, ambiental, esportivo etc. Imagine o lançamento televisivo de um produto voltado para o público feminino, de meia idade e da classe “C”, agendado para o mesmo dia e horário de um evento esportivo decisivo de determinado campeonato de amplitude internacional.

A área de TI pode muito bem diminuir todo o ruído que uma administração matricial pode gerar quando não está bem estruturada ou está em fase de amadurecimento. Como? Dentro da estrutura matricial, a visão do gestor indubitavelmente passa por uma visão holística e, não raro, ele precisa olhar o negócio por meio de várias perspectivas, como se estivesse constantemente dentro de um grande caleidoscópio. Essa particularidade da função exige do sistema de enterprise resource planning (ERP) uma enorme flexibilidade de levantamento de dados e cruzamento de informações de acordo com as necessidades do gestor. Em outras palavras, as views do sistema devem permitir ao gestor não se sentir engessado dentro de relatórios padronizados, mas possa criar seus próprios cubos de informação.

A administração matricial exige o emprego de uma energia interna maior do que uma administração convencional, porém a qualidade da energia dispensada é muito mais qualificada, o que auxilia na preparação de colaboradores para assumirem outras funções dentro da própria organização. Por outro lado, exige muito mais profissionalismo e um coeficiente emocional maior dos staffs da organização.

Em um mercado tão acelerado como o nosso, o nome do jogo é flexibilidade.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Alterações em documentos e dados, e aquisições

Como parte da política da qualidade, alterações nos documentos e dados devem ser analisadas de modo crítico, e aprovadas pelos mesmos responsáveis pela sua primeira emissão ou cargos que atualmente equivalham àqueles, exceto quando houver definição em contrário.

Esses profissionais devem ter acesso a informações básicas pertinentes para subsidiar a análise crítica e a aprovação, quaisquer que sejam elas. Isso possibilitará uma correta avaliação do teor da alteração, não somente porque serão conhecidas suas características, mas principalmente porque haverá o conhecimento do impacto que a alteração que será implementada poderá causar.

Sempre que possível, é recomendável que a natureza das alterações seja identificada no documento ou em seus anexos. A natureza das alterações é relevante para a correta avaliação, pois, dependendo da causa ou das causas que tenham acarretado a alteração, análises mais específicas poderão ser necessárias antes de aprovar a alteração.

Cuidados especiais devem ser tomados no que se refere aos documentos controlados, como:

- Processo e os procedimentos para o controle dos dados e documentos
- Relação de documentos e das folhas de dados ou modo similar para a indexação dos documentos
- Relação das folhas de dados e documentos autorizados e de suas respectivas alterações
- Cronograma das análises dos documentos e das folhas de dados

O controle das alterações é um ponto-chave para comprovar a efetiva aplicação do sistema da qualidade, e deve ser executado sistemática e rigorosamente, para evitar que um documento não alterado continue a ser utilizado após a emissão da alteração.

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Aquisições

Em todas as aquisições, deve ser assegurada a qualidade dos insumos adquiridos.

Os requisitos para o fornecedor devem ser precisamente fixados, de modo claro e inequívoco, nos documentos de compra. Nestes, devem ser estabelecidas as especificações técnicas e todos os métodos de ensaio a serem atendidos.

A seleção dos fornecedores deve considerar a capacidade de fornecimento com qualidade, e essa capacidade deve ser comprovada.

Deve ser estipulada a entrega de documentos que atestem a qualidade dos insumos.

Deve ser estabelecido um conjunto de regras para o esclarecimento de eventuais dúvidas, e deve ocorrer a implantação, se necessário, de ações corretivas.

Quando houver a realização de testes de avaliação, por ocasião do recebimento das mercadorias adquiridas, os resultados deverão ser registrados no sistema da qualidade.

Devem ser estabelecidos procedimentos para a realização das aquisições.

Todos os itens consumidos e produzidos devem, obrigatoriamente, ter especificações claras, objetivas, completas e factíveis de serem cumpridas pelo fornecedor.

Deve-se ressaltar que a segurança em relação aos produtos não pode ser comprometida pelos itens e serviços adquiridos, por isso devem existir procedimentos para assegurar que:

- Riscos advindos de fornecedores incompetentes sejam minimizados

- Sejam mantidos registros de fornecedores qualificados

- Os fornecedores sejam informados de modo claro quanto aos requisitos de fornecimento
Deve-se considerar que os itens adquiridos geralmente representam parcela significativa do custo final do produto. Portanto, a qualidade destes produtos será diretamente proporcional à qualidade dos insumos neles incorporados.

Para concluir, é bom lembrar que os seguintes pontos devem ser sempre observados:

- Qual o critério de avaliação dos fornecedores
- Qual o critério de seleção dos fornecedores
- Qual o critério para a avaliação da capacidade e do desempenho do fornecedor
- Como são mantidos os controles e os registros dos fornecedores

É importante considerar que o conhecimento e a seleção dos fornecedores significam otimizar compras e, portanto, reduzir o custo final dos produtos.

Assuntos Regulatórios por Artur João Gradim

Sazonalidade de produtos e greve da Anvisa

O início do segundo semestre de 2012 não está sendo nada fácil para o segmento de HPPC, principalmente em relação aos fabricantes e importadores de produtos de consumo sazonal, como os cosméticos coloridos (make-up) e para proteção solar.

Com a expectativa de que haveria muitas coisas boas para acontecer, a exemplo da revogação de parte do Decreto nº. 79.094/77, relativa a produtos (artigo 49); da atualização da legislação de produtos infantis (o que não é comum aos demais países do Mercosul), em consulta pública que vai até 30 de outubro deste ano; da alteração na dinâmica do critério de prioridade analítica das petições de registro no que tange a alterações e inclusões; e da tão aguardada notificação para os produtos de grau 2. E o que aconteceu de fato? A greve!

Hoje, no pós-greve, para alguns grupos de produtos resta reparar o reparável no que diz respeito às ações de mercado referentes, por exemplo, aos produtos sazonais, principalmente às extensões de linha de produtos de make-up com o lançamento previsto das novas coleções primavera-verão, incluindo os esmaltes e os produtos destinados à proteção solar.

Essa gama de produtos decorativos dos quais o Brasil é o terceiro consumidor global e a de produtos de proteção solar, dos quais somos o segundo maior mercado no top 10 mundial, têm uma característica muito singular: a forte dependência externa no que se refere aos seus ingredientes principais (corantes, filtros físicos e químicos). Devido à pureza e a complexidade tecnológicas requeridas na fabricação desses ingredientes, durante um longo prazo, para não dizer “nunca”, não estarão disponíveis de produção local, com base nos requerimentos atuais.

Com a greve, portos e aeroportos foram atingidos e as importações desses ingredientes e produtos finais ficaram a mercê do retorno demorado às atividades normais, tendo sido assegurada sua inspeção e liberação por decisões judiciais nas raras ações impetradas pelo setor.

Além de depender da importação de seus principais ingredientes, o grupo de produtos de make-up requer uma logística ainda mais complexa para seu desenvolvimento, seu registro, sua produção e sua distribuição. Além disso, depende, fundamentalmente, das tendências da moda definidas pelo segmento de vestuário.

Assim sendo, o desenvolvimento desses produtos somente pode ser iniciado após a definição dessas tendências da moda. Portanto, são produtos que exigem uma dinâmica prioritária em sua elaboração, incluindo a aprovação sanitária em um timing até hoje não alcançado pelo órgão responsável por seu deferimento para aqueles produtos classificados como do grupo 2. Essa demora frequentemente se deve ao acúmulo de processos pendentes, causado pela indisponibilidade de pessoal técnico necessário para o atendimento da demanda, na forma requerida.

Tudo isso é uma microparte das consequências advindas da falta de uma política industrial ampla que contemple as cadeias produtivas essenciais e assegure às demais sua consolidação e seu fortalecimento. Para isso são necessários instrumentos que coíbam a paralisação de setores oficiais, para que haja desembaraço aduaneiro e das demais ações atreladas, como a liberação sanitária.

Essas atividades são essenciais para o país em seu estágio atual. Por essa razão, a simples alegação de que esses serviços estão em estado de greve não justifica a omissão das autoridades em cumprir suas obrigações.

A falta de vocação de grande parte dos gestores públicos responsáveis por esse processo, de forma abrangente e crescente, é responsável por ações pontuais e temporárias que atendem a privilégios setoriais. Porém, ao contrário, essas ações deveriam ser voltadas para a indústria brasileira como um todo.

Não basta ser líder de consumo, é necessário assegurar o crescimento sustentado de sua produção e sem fragilidades.

E por falar em fragilidades e crescimento sustentado, nesta coluna da próxima edição (nov/dez), será abordado a lamentável situação presente em relação ao acesso aos produtos da biodiversidade brasileira e referente às ações do principal protagonista e escudeiro desta, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN). Serão revisadas as propostas para chegar a uma condição que torne viável a pesquisa e a utilização dos recursos da flora brasileira pelo setor, atualmente desestimuladas por obstáculos quase instransponíveis.

Até lá, seguiremos desenvolvendo produtos utilizando a biodiversidade da Ásia e da África, e nos congressos internacionais tomaremos conhecimento das pesquisas realizadas no exterior com produtos de nossas florestas, uma vez que as empresas sediadas fora do Brasil podem importar espécies e realizar pesquisas sem se enquadrar na Medida Provisória nº. 2.186-16/2011 e estão livres das sanções às quais as empresas brasileiras estão sujeitas.

Até lá.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Integração do P&D à Cosmetovigilância

Quando se fala em cosmetovigilância, normalmente se fala de relatos, desvios de qualidade, efeitos adversos, reclamações, ações etc. Certíssimo! Essencialmente, a cosmetovigilância trata disso. Porém, já está na hora de tratar de sua integração ao P&D. Essa integração pode aumentar a competitividade e trazer resultados muito positivos para a empresa.

Antes de qualquer consideração, temos de lembrar que o P&D e a cosmetovigilância representam as duas pontas do processo de criação do produto. Enquanto o P&D responde pela tecnologia usada no desenvolvimento e no teste do novo produto ou da formulação, a cosmetovigilância acompanhará a resposta que este provocará no mercado. É certo que muitas reclamações podem ter origem em eventos ocasionais que incidem no processo de produção, como também em falhas no sistema de amostragem e em análises adotadas pelo controle de qualidade. Quando isso ocorre, o problema é pontual, o que não significa que não seja grave, mas continua sendo pontual. Esse caso exige a mobilização dos responsáveis pela produção, pela qualidade, pelo regulatório, pela cosmetovigilância e pelo P&D. No entanto, quando as reclamações têm origem no trabalho de desenvolvimento, estamos diante de um quadro muito mais crítico, pois, nesses casos, os problemas não são pontuais, são generalizados e se repetem a cada lote. Por isso, fica plenamente justificada a necessidade de uma integração entre essas partes, para avaliar todos os tipos de relato.

- Elogio: esse tipo de relato não está citado na norma que estabeleceu a cosmetovigilância e não é um relato muito comum porque os consumidores acreditam que, quando um produto cumpre o que está escrito no texto de rotulagem, ele está cumprindo sua obrigação e pronto. Mas elogios são relatados e devem ser tratados como um evento da cosmetovigilância, que por sua vez, deve pesquisar o motivo de tanta satisfação para, em seguida, informá-lo ao P&D.

- Desvios de qualidade: quando esses desvios se originam no desenvolvimento e no teste do produto, normalmente ocorrem por causa de estudos de estabilidade mal planejados ou mal executados. Outra causa é a dificuldade de reproduzir o processo de preparação desenvolvido na planta de produção.

- Reclamações: existem várias razões para reclamar de um produto sem que tenha ocorrido desvio de qualidade ou efeito adverso. Essas reclamações podem fazer referência ao sensorial, à dificuldade de uso, à baixa eficácia, ao odor, à adequação da embalagem e até a acidentes relacionados ao uso. Todos esses relatos são de interesse do P&D porque normalmente se originam no projeto de desenvolvimento. Como existe um forte vetor de subjetividade na maioria das reclamações, e como não é possível agradar a todos, entende-se que algumas delas são infundadas. No entanto, toda a reclamação deve ser levada ao conhecimento do P&D.

- Efeitos adversos (ou indesejáveis): esses são os tipos de evento mais graves e podem ser os mais onerosos e que mais desgastam a empresa. Podem ser causados pela ação do produto ou por falta de informações ou clareza no texto de rotulagem. Para evitar sua incidência, deve-se implantar uma sistemática de avaliação da segurança consistente, com critérios técnicos bem estabelecidos. Por outro lado, é necessário criar um processo de redação e revisão do texto de rotulagem. Quando são registradas muitas solicitações de informações – que são também um tipo de evento de cosmetovigilância – é recomendável que se faça uma revisão de texto de rotulagem. Um texto incompleto ou impreciso pode levar a uma forma inadequada de usar o produto, que, por sua vez, pode causar o aparecimento de efeitos adversos. Rótulos ilegíveis também são um problema sério. Apesar de não ser um teste comum, é necessário avaliar a durabilidade do texto de rotulagem. Desbotamento e rasuras podem causar problemas sérios, como o uso inadequado.

A realização de estudos de segurança é uma obrigação regulatória para todos os produtos, independentemente de sua classificação quanto ao grau de risco. Todos os produtos em desenvolvimento devem ser submetidos a esse estudo antes de sua comercialização. Seus resultados são obtidos por meio da aplicação de critérios técnicos, legais e científicos em protocolos que são conduzidos em situações controladas. O bom histórico de mercado de um produto, que deve estar registrado pela cosmetovigilância, valida e consolida os fundamentos desse estudo que, mais do que obrigatório, é uma garantia de produtos seguros para os consumidores e lucrativos para a empresa.

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Depilação Moderna

A retirada de pelos de algumas regiões do corpo é um fator cultural de algumas populações. No Brasil, as mulheres têm o costume de realizar a depilação, sendo considerada estranha e inestética a permanência de pelos em locais como axilas, pernas e virilha.

A depilação deve ser iniciada quando os pelos começarem a incomodar, ou seja, quando estes engrossam e se tornam mais abundantes. Isso geralmente acontece na puberdade, devido às alterações hormonais inerentes a essa fase da vida.

Nas meninas, ocorre entre 10 e 13 anos de idade. É importante saber que quanto mais precoce for o contato com substâncias químicas, maior será a possibilidade de ocorrer o desenvolvimento de alergias e de sensibilizações na idade adulta. A pele das crianças é mais fina e sensível, por isso, o uso de ceras, cremes depilatórios e afins deve ser evitado ao máximo.

Usar a lâmina é a melhor maneira de começar a fazer a depilação, pois a cera é um método mais agressivo e doloroso, o que pode assustar e traumatizar mulheres mais jovens. Utilizar a lâmina é um método totalmente indolor, mas, por outro lado, os resultados duram pouco, já que o pelo é “cortado” superficialmente, crescendo e voltando a aparecer em poucos dias. O ideal é usar aparelhos especiais para depilação feminina, pois são mais flexíveis e têm lâminas especiais, diminuindo o risco de ferimentos. O segredo para uma boa depilação é a lâmina deslizar, e, para isso, é preciso que a pele esteja úmida. Orienta-se aplicar um gel, um creme ou mesmo usar a espuma do sabonete, para que a lâmina deslize com facilidade e a pele fique protegida. Após a depilação, é imprescindível usar um hidratante, de preferência indicado por um dermatologista, com propriedades calmantes e cicatrizantes, pois a pele fica mais sensível e irritada.

O que se pode considerar como mais moderno para a remoção de pelos é a utilização do laser e da luz intensa pulsada (LIP), aparelhos que emitem uma luz especial, que causa fototermólise seletiva, destruindo o folículo piloso e retardando o aparecimento de uma nova haste capilar.

O alvo específico é o pigmento concentrado na raiz do folículo piloso. Para atingi-lo, a luz têm de atravessar as camadas mais superficiais da pele. No trajeto, ela pode ter afinidade com outras estruturas pigmentadas, como as células da pigmentação, os melanócito que produzem melanina. Esse fato explica por que é mais difícil realizar a depilação definitiva em paciente de pele morena ou negra. Em contrapartida, quanto mais contraste houver entre a pele (branca) e o pelo (escuro), melhor será o resultado geral da depilação. Peles muito claras, com pelos grossos e escuros apresentam resultados mais satisfatórios. Se a pele estiver bronzeada, não se deve realizar a depilação a laser/LIP. Isto porque esse método pode confundir o pigmento e irradiar calor para a pele bronzeada, causando queimaduras e cicatrizes definitivas.

Pessoas com antecedentes de queloide, vitiligo ou que estejam usando isotretinoína via oral devem ter bastante cautela e, seu tratamento tem de ser sempre indicado e supervisionado por um dermatologista. Pessoas de pele escura não podem ser tratadas com qualquer tipo de aparelho, pois existe risco de queimaduras, cicatrizes e manchas. É fundamental que um médico avalie cada paciente individualmente e indique o tratamento mais adequado.

O uso dos termos “depilação definitiva” não é muito apropriado, pois pressupõe que uma vez realizado esse tipo de depilação nunca mais existirá qualquer pelo. Nenhum equipamento de laser ou luz intensa pulsada hoje disponível é capaz de realizar uma depilação definitiva de todos os pelos, mas muitos aparelhos conseguem realizar a depilação definitiva da maioria dos pelos, e com a manutenção adequada, pode-se chegar muito próximo do ideal.

A depilação a laser/LIP é um tratamento eficaz e duradouro. Existem diferentes aparelhos hoje disponíveis no mercado, alguns mais dolorosos, outros menos. A frequência e o número de sessões dependem do tipo de aparelho e das características do paciente e das áreas tratadas. Na região da virilha e nas axilas, em geral, são necessárias de 4 a 5 sessões, com intervalos mensais. A região da perna pode necessitar de 4 a 6 sessões. As regiões do buço e da face são mais resistentes, requerendo de 8 a 10 sessões. Devido às características e ao custo desse procedimento, é fundamental a indicação e supervisão de um médico habilitado.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Acondicionamento de Embalagens e a Vigilância Sanitária

Normalmente, quando preparo as colunas tenho uma preocupação maior voltada para as pequenas e médias empresas, considerando que as grandes têm sempre recursos e gente com conhecimento e treinada para as diversas ações e para o trabalho que requer cada área.

Elas diferem das pequenas e médias empresas, que têm poucos recursos e, não raro, um “faz tudo” que não tem subordinados para delegar. Portanto, cada passo, cada atitude e cada mudança dependem dele, que busca conhecimento mesmo sem tempo e com dificuldades.

É sabido que, quando se fala de embalagem, são poucos os profissionais que entendem e escrevem sobre esse assunto, diferentemente do que ocorre em relação a matérias-primas ou mesmo a produtos acabados. Dessa forma, procuro passar a mensagem sempre pensando que alguém precisa dessa informação, desse conhecimento e vai aplicá-lo em sua fábrica.

Além da especificação técnica e da qualidade, existe outro universo cuja importância nós só percebemos quando somos obrigados a fazer o que determinam as autoridades.

Um dos órgãos que nos orienta e nos fiscaliza é a Vigilância Sanitária, principalmente quando estamos montando uma fábrica ou mudando de endereço. O lado ruim é que de município para município, mesmo dentro de um mesmo estado, existem os chamados “dois pesos e duas medidas”. O que quero dizer com isso é que, dependendo do município, o laudo técnico de avaliação (LTA) tem maiores ou menores exigências.

Percebo, por exemplo, que em alguns municípios a Vigilância Sanitária exige que o setor de envase seja um local fechado e separado do restante da linha. Em outros municípios, o envase e a montagem sequencial do produto na linha estão num mesmo espaço.

Com menor ou maior exigência, a verdade é mais do que correto e justifica ter o setor de envase separado. Porém de nada adiantará esse setor ser separado, se as caixas de papelão que contiverem as embalagens forem armazenadas dentro desse setor.

Deve-se ter essa área fechada porque nela é feito o envase, ou seja, por meio de máquina ou manualmente, o produto é colocado dentro de frascos, potes, bisnagas etc., e pode ficar exposto temporariamente. Portanto, essa é uma área vulnerável de contaminação microbiológica. Utilizar uma área fechada e eliminar caixas de papelão minimizam consideravelmente o risco de contaminação dentro dessa área.

Mas como levar frascos, potes, bisnagas etc. para dentro da sala de envase sem levar as caixas?
A primeira opção e a mais usual é a obrigatoriedade de que todas essas embalagens venham em caixas, porém dentro de sacos plásticos e de boca para baixo. Isso vale também para válvulas, tampas, batoques e casca seal que, embora não sejam utilizados dentro da área de envase, também têm contato com o produto.

Sendo assim, antes de entrar na área de envase, as caixas são descartadas e entram somente os sacos plásticos contendo as embalagens.

É difícil para uma pequena empresa exigir do fornecedor que as embalagens venham em caixas e dentro de sacos plásticos, principalmente considerando que o que essa empresa compra é insignificante para o fornecedor. Porém, isso faz parte das Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPF e C) e é prática comum dos bons fornecedores, independentemente da quantidade de venda e do cliente.

Por outro lado, não adianta as embalagens virem em sacos plásticos se estes forem sacos pretos de lixo. Digo isso porque sei da existência de fornecedores que entregam dessa forma, principalmente os batoques, as espátulas e o casca seal.

Quero acrescentar também que essa exigência não pode, de maneira alguma, implicar aumento de preço da embalagem, pois é uma exigência do mercado e uma obrigação do fornecedor.

Outro caminho que também é muito usado nas empresas para levar essas embalagens até a sala de envase de maneira correta e sem riscos de contaminação microbiológica é retirar as embalagens dos sacos plásticos e das caixas e acondicioná-las em caixas plásticas devidamente limpas e com tampas.

A Vigilância Sanitária vem “fechando o cerco” com essa exigência, que pode acontecer não necessariamente apenas na montagem de uma nova planta, mas também na revalidação das atuais licenças de funcionamento.

Se sua empresa ainda não trabalha dessa forma, é bom se programar e começar a pensar na adequação necessária, evitando assim ter de fazer isso às pressas lá na frente.

Luis Antonio Paludetti
Manipulação Cosmética por Luis Antonio Paludetti

Moça bonita não paga!

Pode parecer estranho, mas uma coisa que eu gosto de fazer é ir à feira. Apesar de os supermercados e sacolões serem muito mais práticos, não são como a feira.

Para começar, logo que chegamos à feira, sentimos o cheiro de pastel (dizem que não há pastel melhor). Em seguida, ouvimos a descontração e o burburinho das pessoas e sentimos os aromas dos vegetais e das frutas frescas – além de vermos seu colorido - um espetáculo para nossos sentidos.

Mas, “por que diabos” eu estou falando da feira numa coluna sobre farmácia, de uma revista de cosméticos?

É simples: se eu começasse a falar sobre o tema desta edição, com certeza você não leria a coluna desde o começo. Assim, espero que você tenha um pouquinho de paciência para me acompanhar até o final. Você verá que o artigo tem tudo a ver com a feira.

Então, vamos lá! Já foi bastante noticiado que, recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) modificou a resolução RDC nº. 44/2009, permitindo a venda de medicamentos isentos de prescrição (MIP) diretamente ao consumidor em gôndolas.

A nova resolução RDC nº. 41/2012 permite que drogarias coloquem os medicamentos em gôndolas, sem a intervenção direta da assistência técnica e atenção farmacêuticas.

Não quero aqui discutir os motivos pelos quais isso ocorreu, mas sim, tratar de algumas consequências e de alguns desdobramentos.

É possível considerar que um medicamento isento de prescrição é aquele que – devido às suas características farmacológicas e toxicológicas – é considerado relativamente seguro em dosagens e quantidades previamente estabelecidas para uso, sem que haja a necessidade da intervenção médica para a prescrição.

Entretanto, isso não significa que esse medicamento pode ser adquirido pelo consumidor diretamente, sem qualquer orientação.

Por exemplo: em vários países do mundo, a ranitidina é vendida em cartelas contendo 6 comprimidos de 75 mg, na apresentação de um MIP. Mediante rigorosa orientação dos farmacêuticos, o paciente pode então ter algum alívio temporário para, por exemplo, um desconforto gástrico. Se os sintomas persistirem, o próprio farmacêutico poderá recomendar ao paciente que procure um médico.
Imagine então a mesma situação no Brasil, se a mesma raniditina estivesse disponível como um MIP: um paciente visita uma drogaria e, com uma sacolinha ecológica (afinal somos um país desenvolvido) na mão, passa de gôndola em gôndola (lembrou-se da feira?) pegando os antiácidos, a ranitidina, alguns flaconetes para o fígado e algo para dor de cabeça.

Ninguém fala nada, apenas o caixa pergunta se ele quer o CPF na nota. Chegando em casa, ele pode deliciar-se com as cores e os aromas dos medicamentos.

Opa! Então, se um paciente adquirir ranitidina 75 mg, pode chegar em casa e tomar logo 2 comprimidos (150 mg) e mais um pacotinho efervescente?

É. Ele pode. Agora, pense comigo: dois comprimidos de ranitidina 75 mg são a mesma coisa que um comprimido de 150 mg?

São sim, são quase a mesma coisa, a não ser pelo fato de que a ranitidina com 150 mg é um medicamento de prescrição.

- Pera, professor. Tá me confundindo...
É, é confuso mesmo. Em outras palavras, o mesmo fármaco pode ser comercializado com e sem receita, dependendo da dose de cada comprido. A única diferença é a intervenção do farmacêutico, que em nosso país é tão desconsiderada e, agora, com essa resolução, se resume a um cartaz dizendo laconicamente “O farmacêutico deverá ser consultado”.

Outro aspecto interessante, mas pouco abordado, é relativo às farmácias magistrais: na prática, um paciente pode ir a uma drogaria e adquirir um MIP, na quantidade que desejar e usá-lo como quiser, sem qualquer interferência. Entretanto, um paciente não pode solicitar a manipulação de um medicamento contendo um fármaco com a dose e na forma farmacêutica semelhantes às de um MIP.

O que mudou? Por acaso, um fármaco muda sua segurança ou sua toxicologia pelo fato de ser manipulado ou industrializado? Por acaso, medicamentos vendidos nos balcões de drogarias são mais seguros que seus equivalentes manipulados?

Eu acredito que não. Então, por que dar esse tratamento diferente para uma mesma situação?
Eu gostaria de esclarecer que sou contra a venda de MIPs em gôndolas, e acredito que todos os farmacêuticos - como realmente sabem o que é um medicamento - também deveriam ser contra.

Mas parece que a confusão ainda é grande, até mesmo dentro da própria Anvisa. Segundo a cartilha “O que devemos saber sobre medicamentos”, disponível no portal da agência na internet, os MIPs são definidos desta forma: “São medicamentos que não necessitam de prescrição, mas devem ser utilizados de acordo com a orientação de um profissional farmacêutico.” (Grifo meu).

Espero que essa reflexão desperte nos farmacêuticos os sentimentos de proteger os pacientes e de proteger a razão de ser de nossa profissão: o medicamento.

Só assim nós evitaremos que, talvez, um dia, estejamos vendendo medicamentos em barracas de feira, ao ar livre. “É três por dois, freguesa, moça bonita não paga!”

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